Admito que estou muito preocupado. Não estou preocupado com a capacidade, vontade e determinação que os portugueses em geral possam demonstrar para sair da situação sócio-económica em que a classe política e os três principais partidos com assento parlamentar lançaram o país. Não me lembro de nada igual e alguns economistas confirmam que na última centúria, mais coisa menos coisa, Portugal nunca roçou um grau tão elevado de degradação de todos os indicadores económico-sociais. É por isso que eu não compreendo as sondagens que vão aparecendo e que me parecem configurar uma tendência muito lusa de "estar à beira do abismo e dar o passo em frente", bem como uma falta de senso comum confrangedor.
Independentemente dos discursos políticos, que nada mais têm feito do que balançar entre ataques e acusações mútuas sobre quem é e quem não é culpado da crise, o que interessa saber é quais as propostas dos partidos para atacar a situação em que nos meteram, e isso, como é óbvio, eles não sabem dizer porque não têm ideias. Não basta acusações nem vir dizer o óbvio de que temos que sair desta situação. Isso todos sabemos. O que gostávamos que nos dissessem é como vão aplicar, ponto a ponto, todos os pontos do acordo celebrado com a União europeia, Banco Central Europeu e FMI; esse é o aspecto verdadeiramente relevante, porque o programa do próximo governo nada mais será do que isso. Sim, isso é que gostávamos de saber, mas parece que para os partidos que se vincularam com a troica, explicar e esclarecer isso, é demasiado difícil e complexo. A mim parecia-me a única maneira de desfazer este imbróglio de bi-partidarização em que a generalidade dos portugueses nos estão a meter outra vez, a avaliar pelas sondagens, e que nos vai empurrar para os braços dos mesmos que em três décadas devastaram o país.
Jacinto Lourenço