Duas semanas, foi o tempo que estive fora e durante as quais me prometi reduzir ao mínimo o meu acesso às novas tecnologias. Cumpri apenas serviços mínimos. Digamos que me isolei um pouco do mundo, esqueci rotinas adquiridas e orientei-me para outros interesses diários que me aliviassem a mente, o espírito e o corpo do desgaste provocado pela vida urbana diária.
Fiz jardinagem, cortei relva, passeei no campo, apanhei sol e chuva, tive tempo para me constipar até, descarreguei e arrumei lenha e fiz alguns arranjos domésticos numa casa pouco ocupada ao longo do ano. Usufrui do bucolismo duma povoação parada no tempo, onde toda a gente se conhece e mesmo que não conheça cumprimenta-se com relativa afectividade como se conhecesse. Fez-me bem o silêncio, o cansaço e o lazer despreocupado. Limpar a mente e o coração durante 15 dias devia ser medicamento de receita obrigatória em qualquer consultório médico. Infelizmente o tempo em que vivemos conseguiu transformar, na maior parte dos casos, o tempo de férias e lazer em stress acrescido .
Confesso que vi quase nenhuma televisão, excepto algum futebol, li poucos jornais e ouvi menos rádio do que o habitual. Não consegui pegar em todos os livros que tinha levado para me ocupar, até porque em matéria de livros tenho sempre um olhar maior do que a normal capacidade humana de leitura me permite, e digo-vos que a minha é grande. Os antigos diriam que, em matéria de leitura, eu "tenho mais olhos que barriga", o que não é exactamente verdade.
Aproveitei o meu tempo devocional num tempo de serenidade, paz e prazer rodeado de natureza simples.
Desejava que, no regresso ao tempo urbano da minha vida, a crise se tivesse atenuado, e não falo da crise económica e social pois essa, todos sabemos, teremos que a sofrer, falo da crise "palavrosa" dos líderes políticos que tinham a obrigação de se calarem após o "afundanço" em que mergulharam o país. Mas não, eles não se calaram e, pior que isso, o discurso não mudou; continua muito palavroso e vazio de ideias de esperança, facto que não prenuncia nada de bom para Portugal nos próximos anos. Tenho pena pelos portugueses. Olhei para a Europa e constatei que a desconstrução da União Europeia, que já foi uma ideia bonita, continua em passo acelerado rumo à implosão. Lamento pelos europeus.
Hoje de manhã bem cedo ouvia rádio e que o presidente americano comunicara que Osama Bin Laden tinha sido finalmente morto. Fez-se justiça, terá dito o homem da Casa Branca. Por mim prefiro pensar que a justiça se faz sem recurso à morte prévia. Tive pena que os americanos tivessem perdido a oportunidade de julgar Bin Laden e responsabilizá-lo em tribunal pelos seus crimes contra a humanidade. Afinal é essa a linha que, além de outros factores importantes, nos separa de um criminoso: perceber o que é a justiça e como aplicá-la. Matar simplesmente é sempre o mais fácil e Bin Laden fê-lo milhares de vezes.
Apeteceu-me voltar ao bucolismo dos últimos 15 dias. Percebi que o tempo não muda nada. Só a nossa atitude pode fazer mudar algumas coisas para melhor, especialmente quando estamos rodeados de natureza em estado puro e percebemos a finitude do nosso tempo face a tudo aquilo que nos rodeia e de que podemos aprender a usufruir em agradecimento a Deus Criador .
Jacinto Lourenço