quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Entender o Apocalipse

Ao iniciar a leitura do primeiro capítulo de Apocalipse, verificamos de imediato tratar-se de literatura bíblica em parte apocalíptica, em parte profética e em parte epistolar.
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O livro começa com a frase : “Revelação de Jesus Cristo”. A palavra “Revelação” deriva do grego “Apokalupsis”. Na versão portuguesa, o termo grego foi transliterado (a nível do título do livro), tendo resultado daí a palavra “Apocalipse”. A literatura de género apocalíptico revela-se sempre rica em simbologia e tipos alegóricos e metafóricos estranhos à linguagem normal, até mesmo para outros géneros que fazem destes recursos linguísticos uso recorrente, como a poesia. É um género literário com forte impacto verbal, que transmite imagens bastante fortes também, emprestando assim grande dramatismo aos acontecimentos narrados que extravasam os conceitos percepcionais do ser humano que acaba por os enquadrar e associar a uma aura de mistério . Contudo, para os leitores a quem se destina a revelação, esta linguagem nada traduz de anormal, bem pelo contrário. Estamos habituados a ela em diversos livros do Velho Testamento, como estavam também os leitores do tempo de João, especialmente os de origem Judaica. Não faria sentido que o livro fosse um “MISTÉRIO”, tendo como título “REVELAÇÃO”.
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Descrever a intervenção divina na vida dos homens, que está muito para além da nossa capacidade de a racionalizar, comunicar a visão de Deus e os seus grandiosos projectos numa linguagem perceptível aos redimidos, é essa a base da literatura Apocalíptica de forte conotação simbólica. Julgo que Deus manteve uma preocupação na visão que deu a João em Patmos, sendo esta igualmente a opinião de muitos comentadores bíblicos : Revelar a mensagem aos que entendiam a linguagem dos símbolos, e ocultá-la, por detrás dos símbolos, aos que a pretendam distorcer ou subverter com outro sentido que não aquele que lhe seja aplicável. Como diz na 1ª Coríntios 2:14 : “ Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
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Hoje, “Apocalipse” é normalmente conotado com julgamento e destruição grandiosa, espectacular e misteriosa muito ao gosto "hollywoodesco". Contudo, o termo grego Apokalupsis tem um significado precisamente oposto e remete para “desvendamento e revelação do que está oculto”. Como vemos, está nos antípodas … +
Por outro lado, o livro é também profético, dado que na sua revelação Deus introduz essa condição : “ Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam ( guardar significa preservar algo para que possa ser usado ou aplicado mais tarde ) as coisas que nela estão escritas…” A título de exemplo, temos os profetas que eram, como sabemos, homens inspirados e escolhidos por Deus, para proclamarem a sua palavra, os seus mandamentos, as suas instruções, para o futuro próximo ou distante, debaixo do poder do Espírito Santo, etc.
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Apocalipse revela uma intenção da parte de Deus e que é “desocultar” o que estava oculto aos nossos olhos e permitir que a igreja receba as bençãos que a Revelação promete aos que “ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas” ( v.1:3 ). Deus diz que esses são “bem-aventurados” .
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Finalmente, a característica epistolar de Apocalipse identifica-se logo no início do livro, no verso 4, com a típica saudação apostólica que João faz às sete igrejas: “João ás sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e o que há de vir, e da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono; e da parte de Jesus Cristo …” Neste caso, a saudação não é da parte de João mas de Deus, directamente para todos os salvos em Cristo. João foi apenas o “vaso”, o escriba usado pelo Senhor para fazer chegar até nós a sua Palavra.
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Jacinto Lourenço