“ …Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus : Tu dizes isso de ti mesmo ou disseram-to outros de mim? ”
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O texto bíblico dá conta de uma pergunta de Pilatos a Jesus, e da resposta que lhe deu o Mestre. A pergunta trazia já em si própria um preconceito do governador acerca de Jesus Cristo. Pilatos, mais do que provavelmente, nunca tinha estado frente a frente com o Mestre. Para ele , Jesus não passava de mais um Judeu que os sacerdotes lhe entregavam para ser julgado e que queriam executado; mas a pena de morte excedia os limites da autoridade sacerdotal e só poderia ser aplicada pelos Romanos. Porém, na recepção ao Senhor, já estava formulada na cabeça de Poncio Pilatos uma linha de preconceito que o deixava previamente influenciado e dividido quanto à avaliação de quem tinha pela frente. De acordo com Lucas 23:6,7, quando Jesus lhe foi enviado pelos principais dos sacerdotes, Pilatos descobrindo que Ele era Galileu e, pertencendo por essa via à Tetrarquia de Herodes Antipas, de pronto o enviou para este que, por essa altura, se encontrava em Jerusalém afim de celebrar a Páscoa. Achava o governador que lavava as suas mãos, sem as molhar, de um assunto que queria confinado à estrita esfera judaica. Por outro lado, no conceito dos responsáveis Judeus, que encaminharam Cristo até Pilatos, a sua consciência ficaria “limpinha”. Descartavam-se do Cristo antes de celebrarem a Páscoa, a cuja celebração não pretendiam comparecer “contaminados”, e “desresponsabilizavam-se” da autoria material da morte do Senhor que recairia dessa forma sobre César. Este Messias não servia os seus interesses nem os seus preconceitos religiosos.
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Apetece-me citar o texto “A Prisão Judaica”, noutro contexto, é certo, que o meu amigo João Tomaz Parreira publicou já há algum tempo numa revista cristã ( “Novas de Alegria” ) , e que a determinado passo diz: “Politicamente verificamos que muitos Judeus, na Palestina, querem o território bíblico, mas rejeitam o Deus que lhes deu ancestralmente a sua terra. Escavam nas raízes, julgam-se para todas as coisas o único testemunho da humanidade e o exclusivo instrumento da divindade, mas colocam Jeová fora dos seus planos”. Foram assim sempre, ao longo da sua história, os Judeus. Alimentando o preconceito de que “um escolhido” tem sempre a razão e a verdade do seu lado independentemente da forma como julga e avalia, e como vive. Citando de Novo J.T.Parreira, no mesmo texto, e que por sua vez cita outros pensadores, e aplicando agora aos cristãos nossos contemporâneos que possam viver, um pouco à imagem do judaísmo, um cristianismo impregnado de preconceitos, faço minhas as suas palavras: “o que vale não é tanto um credo cristão, mas muito mais os actos concretos dos cristãos”.
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Razão teria João Batista ( porque conhecia bem a intimidade do coração e do pensamento dos judeus), quando atirou aos Saduceus e Fariseus a frase: “raça de víboras (…) produzi frutos dignos de arrependimento e não presumais de vós mesmos, dizendo: temos por pai a Abraão[...]”. Por essa e outras razões, que tinham a ver com uma fé liberta e à margem da “linha do preconceito”, foi João Batista martirizado.
O preconceito fere, contamina, destrói e, como vimos pela Palavra de Deus, pode matar!
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“Preconceito: Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério. Obrigação de obediência inflexível a certas normas de procedimento convencional ou tradicionalmente estabelecidas. Estado de superstição de cegueira moral. Abusão, erro, prejuízo, que muitas vezes obriga a certos actos ou impede que eles se pratiquem”. É o que diz o Grande Dicionário da Língua Portuguesa – edição Círculo de Leitores.
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Jacinto Lourenço