sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Johannes Kepler - Cristão e Cientista Corajoso

As contribuições de Johannes Kepler ( “astrólogo” – assim eram designados na antiguidade os actuais astrónomos ou astrofísicos ), alemão nascido em 1571, protestante e estudante de teologia no início da sua vida académica, foram, segundo diz Carl Sagan em “Cosmos” “…de grande audácia e de importância fundamental…” para a compreensão das leis físicas que regem todo o universo, à semelhança, aliás, da importância que teve também Galileu para essa mesma compreensão. Diz ainda Sagan que Kepler, sendo o último astrólogo científico, foi o primeiro astrofísico da história. Tal como aconteceu com Galileu, condenado pela igreja católica pela insistência na defesa da teoria heliocêntrica, não seria fácil para Kepler fazer aceitar a sua tese de que, para além do sol se encontrar estático, os planetas circundavam-no em rotas elípticas e não em círculos perfeitos, como era defendido pelos tradicionalistas, (“convictos de que um Deus perfeito nunca iria colocar os planetas a realizar órbitas em círculos imperfeitos”…- Carl Sagan in Cosmos” ) sendo que isso derivava precisamente da atracção que a nossa estrela exerce sobre os corpos que o rodeiam nos seus movimentos de translacção. Para além de se ter dedicado ao estudo de diversas ciências que lhe permitiram olhar os planetas numa outra perspectiva, Kepler era um cristão convicto que achava que Deus exercia uma influência no universo que ia muito para além de simplesmente se ocupar a aplicar a ira divina e a exigir sacrifícios. O Deus que Kepler conhecia, era e é o mesmo que nós conhecemos: o Criador de todo o universo. Quando em 1543, antes portanto de Kepler e Galileu, um clérigo católico Polaco, de nome Nicolau Copérnico, entregou ao mundo as suas convicções acerca do movimento heliocêntrico dos planetas, que punha desde logo em causa todo o conhecimento trazido à luz por Cláudio Ptolomeu e que durou cerca de mil anos, o mundo religioso e científico de então abanou. Não esqueçamos que Ptolomeu bebera muito em Aristóteles e na ideia dos quatro elementos, água, fogo, ar e terra, que dominavam, segundo a escola Aristotélica, os comportamentos dos seres , pelo que algumas bizarrias que Ptolomeu sustentava vinham na sua peugada. “Ptolomeu acreditava que não só os comportamentos eram influenciados pelos planetas e estrelas mas também que as questões de estatura, tez, nacionalidade e até deformações físicas congénitas eram determinadas pelas estrelas” ( Carl Sagan – “Cosmos” ). A ser assim, Darwin podia ir para casa descansar e colocar a sua teoria da evolução no triturador da história. Em conformidade com as ideias Ptolomaicas, não existiria espaço para nenhuma alteração incutida, pelo meio, aos seres vivos. Coisas simples, como por exemplo, o tipo de alimentação, que tem influência nas alterações morfológicas das gerações ou o clima, que exerce uma tremenda pressão sobre as condições em que nos movemos alterando o modo de vida e desafiando os limites de adaptabilidade dos seres vivos ao mesmo, fazem surgir, em diferentes latitudes geográficas, fortes clivagens morfológicas e fisionómicas, entre outras. Mas estas observações informam-nos que, embora o meio exerça este tipo de constrangimentos, ele nunca contrariará os princípios básicos que presidiram à criação de Deus.
+
+
Jacinto Lourenço