Na maior parte das vezes, não sabemos decidir sobre o que é melhor para nós. Ao contrário do cidadão que afirmou que "nunca tinha dúvidas e raramente se enganava", nós temos sempre muitas dúvidas e enganamo-nos mais vezes do que seria desejável. Faz parte da nossa natureza humana conviver diariamente com a dificuldade da decisão, especialmente quando uma decisão pode mudar para sempre a nossa vida ou a vida dos que nos cercam. E não é porque sejamos particularmente indecisos, pelo menos mais do que o comum dos mortais; é da nossa natureza. A indecisão, a dúvida, a incerteza fazem parte dos caminhos diários que trilhamos. Uma decisão que se afigure muito acertada num dado momento ou numa situação de hoje, pode vir a revelar-se, amanhã, como completamente desastrada ou, no mínimo, desajustada. Foi sempre assim, a nossa história passada e recente. Somos muitas vezes vítimas das nossas próprias escolhas. Talvez por isso precisamos cartografar permanentemente os caminhos antes percorridos para que, pelo menos, não nos voltemos a enganar onde já anteriormente errámos. Mapas, memorandos, agendas, apontamentos, cartografia ou mais modernamente GPS's, são tudo elementos fundamentais para orientarem, sem nos perdermos em caminhos que nós próprios, ou outros antes de nós percorreram, e que nos podem dar , a cada momento, a informação básica para a melhor decisão se estamos num cruzamento da vida sem qualquer indicação sobre o caminho certo.
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O apóstolo Paulo dizia aos Coríntios : "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens, sendo manifestos como carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração. E é por Cristo que temos tal confiança em Deus".
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"Vós sois a nossa carta". Uma carta escrita não com tinta mas com o Espírito do Deus Vivo no nosso coração. A intenção de Paulo era que os Coríntios não se perdessem na fé, que olhassem para o que estava inscrito nos seus corações pela mão de Deus e vissem , claramente, o rumo a seguir. Um "GPS Celestial" dentro do coração, é o que temos, quando seguimos o Espírito de Deus e o seu conselho. Só assim é possível reduzir, drasticamente, a incerteza das nossas decisões ou manietar a dúvida que tantas vezes nos escraviza e quer destruir, e o erro.
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A certeza de que Deus quer o melhor para nós e de que nos vai orientar no caminho, ou na busca dele, garante-nos que não erraremos ao escolher seguir a direcção que nos indica. Muitas vezes queremos ver sinais antecipados sobre qual o trajecto que o Senhor vai abrir. A verdade é que não fazemos essa exigência na cartografia ou num normal mapa de estradas, simplesmente confiamos e seguimos na direcção que nos indicam. Os sinais, sejam eles de obrigação, proibição ou orientação de sentido surgem só no momento em que deles precisamos e não antes ou depois, isso poderia deixar confusões a pairar no nosso espírito. No momento exacto, onde teremos que saber a direcção a seguir, lá está o sinal a indicar. Não antes nem depois, tal poderia fazer-nos errar irremediavelmente. Deus fala no momento em que deve falar; não antes nem depois. Ele nunca nos deixará em confusão, em dúvida, em incerteza. No momento certo, no tempo exacto, lá está a sua indicação, a sua confirmação para nós. Às vezes parece-nos que o Senhor está a desafiar a nossa fé, como se "brincasse" com os nossos limites. É verdade que Ele nos desafia em Fé, mas nunca "brinca" com os limites das nossas fragilidades. Ele conhece-nos demasiado bem, sabe que somos frágeis e volúveis e por isso nos protege de nós próprios.
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Trago comigo, há muitos anos, um pensamento cujo autor desconheço mas que traduz uma realidade importante na vida do cristão: "Se pões Deus em tudo o que fazes, encontrá-lo-ás em tudo o que te acontece". A verdade é que nem sempre a nossa vida se enquadra aqui. Temos escolhido muitos caminhos que não foram indicados por Deus. As consequências implicam por isso, na maior parte das vezes, sofrimento para nós, mas mesmo nessas circunstâncias, Deus irá corrigir a nossa direcção, porque nos ama, porque nos deseja perto da Sua vontade, perto de Si. Que a nossa certeza e expectativa relativamente à vontade de Deus, seja como a de Daniel à vista dos leões ou do fogo destruidor. Ele estará sempre connosco.
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Jacinto Lourenço