sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Apocalipse, Patmos e o Apóstolo João

O livro bíblico de Apocalipse foi escrito muito provavelmente por volta dos anos 94-96 d.C., durante o reinado do Imperador Domiciano (Domitianus) sob o qual a igreja sofreu uma acirrada perseguição, como se pode perceber em algumas passagens da Revelação, e de que o apóstolo dá conta, nomeadamente em relação a si próprio, e aos restantes irmãos, nos versículos 9 e 10 do Cap. 1. Esta perseguição foi motivada, em grande parte, pela instituição do “culto ao imperador” por Roma.
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João estava na ilha de Patmos quando recebeu a revelação. E estava na ilha de Patmos porquê ? Como ele próprio diz, “por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo”(Ap. 1:9.). A Ilha de Patmos era, muito provavelmente, utilizada pelos Romanos como prisão, por ser uma ilha rochosa, sem praticamente qualquer vegetação; não muito grande (cerca de 7x13 Km) e distanciada mais ou menos 55 km do litoral da actualmente designada Turquia ou, se preferirmos, da então chamada província romana da Ásia Menor. Esta situação geográfica permitia um perfeito isolamento e controlo prisional. Seria uma prisão comparável à que os Estados Unidos da América mantiveram na baía de S. Francisco, em Alcatraz, e para onde eram encaminhados os presos mais perigosos. Para o Império Romano, o apóstolo João era um “prisioneiro político perigoso” e, para estes, o tratamento era diferenciado pela negativa. João não estava a “passar férias numa ilha paradisíaca do mar Egeu”. E também não estava apenas exilado. Estava preso e desterrado! Foi essa a sua condenação por pregar o Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por provavelmente não obedecer à ordem de adorar o Imperador e, quase de certeza, exortar os seus irmãos em Cristo a não o fazerem também. Aos presos políticos que desobedeciam à obrigação de render culto ao imperador, era destinado, previamente à ida para o desterro de Patmos, um açoitamento. Para além disso, em Patmos, esta categoria de presos, não circulava livremente pela ilha, o seu vestuário era escasso e tinham que dormir ao relento ou numa cela fria, húmida e sem luz. A comida reduzida ao mínimo, a sujeição a trabalhos forçados, debaixo do chicote dos guardas e algemas que nunca eram retiradas em caso algum, completavam provavelmente o quadro prisional do apóstolo. Julgamos que, apesar disso, o apóstolo teve algum tempo disponível para redigir as suas notas sobre a revelação recebida, dado que, diz ele, foi “arrebatado em espírito no dia do Senhor” (Cap.1:10). Pode isto pressupor ( ou não ) que ele disporia, pelo menos no 1º dia da semana, se atendermos à tradição cristã de guardar o domingo para o Senhor ( ou eventualmente o sábado se atendermos à tradição Judaica ), de algum tempo de paz de espírito, facto que o ajudaria também a redigir as notas que dariam origem posteriormente ao livro de Apocalipse.
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Jacinto Lourenço