Temos de admitir que o conhecimento do Cosmos e da vida não seria hoje o mesmo sem a “passadeira vemelha” que Ptolomeu lançou à ciência e sem algumas ideias naturalistas que Darwin deixou ( quanto mais não seja, pela discussão que permitiram e pela possibilidade que trouxeram aos cristãos de, também aqui, no campo da ciência, afirmarem a sua fé ). Mas admitiremos igualmente que as ideias, a quase roçar o determinismo, de um e de outro, deram origem a um misticismo e falsa ciência que se prolongaram até ao século XXI. A centelha determinista, reconhece-se aliás, ainda que numa outra dimensão, na teoria do determinismo de Marquis de Laplace (1740-1827) que não deixava escolha à verdadeira ciência ao dizer que a química e a física fixavam determinantemente o resultado de todos os actos causativos.
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O determinismo punha de parte qualquer intervenção divina na sua criação. Era como se o criador estivesse proibido de mexer no que criara. “Ainda hoje, são poucos os cientistas que aceitam o conceito de um Deus que intervém na nossa vida diária “violando” as próprias leis da natureza que Ele criou”, diz Gerald Schroeder.
Pois é: ficaríamos “entregues” ao determinismo se não tivessem sido encontrados alguns princípios físicos e mecânicos que permitem constatar que “causas idênticas não produzem sempre efeitos idênticos” (G.Schroeder – “Deus e a Ciência”) Ou seja : a mecânica quântica permite observar que, dentro dos limites da natureza criada por Deus, existe uma confirmada tendência que abre espaço para que algum efeito sujeito a uma causa rígida possa ter um rumo diferente.
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Voltando a Schroeder, ele afirma que “ a mecânica quântica alterou o nosso conhecimento da natureza. […] Os “milagres” de um Deus pessoal tornam-se […] observáveis do ponto de vista científico nos laboratórios de física”.
A isto, os cientistas (alguns) incapazes de reconhecer a soberania de Deus sobre a sua criação, preferem responder mistificadamente que ”a mecânica quântica revelou que apenas há acontecimentos sem causas suficientes". Isto é: ” acontecimentos que podem ser observados mas não explicados por condições precedentes” ( G. Schroeder – “Deus e a Ciência” )…
Como em tudo na vida, a boa ciência é a que procura explicar-se até a si própria e tem a capacidade de deixar sempre uma porta aberta para a compreensão daquilo que ainda pertence aos desígnios de Deus. O Salmista dizia : “…Tu me cercaste e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua dextra me susterá. Se disser: decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à minha volta. Nem ainda as trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa. Pois possuis-te o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe” (Salmos 139:5-13).
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Jacinto Lourenço