Ontem à noite, no seminário da igreja, que ocorre todas as terças-feiras, percorria e discorria um pouco sobre a história do Império Romano e de alguns dos seus imperadores, particularmente daqueles sob cujo governo se deu o nascimento de Jesus, o seu ministério, morte e resurreição e, bem assim, o aparecimento da igreja e o seu desenvolvimento exponencial no primeiro século. Detivemo-nos sobre dois ou três cujas atitudes, relativamente aos cristãos e ao cristianismo, acabariam por se pautar como bastante gravosas e criminosas mesmo.
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Pese embora as grandes barreiras que sempre se ergueram à expansão do evangelho de Cristo e ao desenvolvimento da igreja por todo o império romano, tal não impediu que, em cerca de três séculos, a cristianização de todo o império fosse uma realidade. Fica por saber se o reconhecimento do cristianismo como religião oficial foi uma coisa boa ou má. A propagação das Boas Novas, no primeiro século da nossa era, quase sempre se fez debaixo de perseguição, e não falo da perseguição em Jerusalém ou na Judéia nos primórdios da igreja cristã, falo da perseguição generalizada nos territórios imperiais. Mas será que isso impediu o crescimento, desenvolvimento e alcance das pessoas pelo evangelho ? Claro que não. Arrisco mesmo dizer que a igreja, em tempos de aflição, se torna mais "igreja", no verdadeiro sentido espiritual desse étimo. Foi talvez por isso que Jesus disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela.
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Depois da aula de ontem à noite, a caminho de casa, fazia o "rewind" do que tinha dito aos alunos e, ao mesmo tempo, realizava a minha auto-avaliação quanto aos objectivos atingidos. Foi então que me ocorreu que, no meio das dificuldades, a igreja encontra-se, ainda mais, consigo própria, discernindo ainda melhor as suas verdadeiras prioridades e a sua vocação espiritual e de serviço.
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O tempo que vivemos, é um tempo de dificuldades sérias e reais. Vejo muita gente, nos meios de comunicação, com ar grave, dizê-lo. Mas vejo também muitos milhares de pessoas, os verdadeiros "pagadores da crise", os que a vão sofrer, quiçá por terem acreditado em "pagadores de promessas", manifestamente preocupados por temerem e desconfiarem do futuro e daquilo que ele se prepara para lhes oferecer. Nesse número incluem-se muitos cristãos.
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Embora nem sempre exteriormente o aparente, sou um optimista por vinculação. Vinculação a Deus, ao meu Deus e à Sua Palavra, às Suas promessas para mim e para o seu povo, para a Sua igreja. É por isso que reproduzo e faço minhas as palavras de oração a Deus pelo profeta Habacuc:
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Cap. 3:7 Vejo as tendas de Cusã em aflição; tremem as cortinas da terra de Midiã.
[...]
17 Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.
18 todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.
19 O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos.
Não gostaria que ficasse a ideia de que acho que a igreja só se realiza no meio do caos ou da desgraça. Nada disso. Mas prova-se, historicamente, que no meio das dificuldades, dos problemas, vêm ao de cima os melhores dons da igreja e do povo de Deus. É também por isso que acho que este é um tempo de oportunidade, em Portugal, na europa, no mundo. Oportunidade não no sentido negativo de oportunismo. Nada disso; até porque a igreja cristã já faz correr atrás de si oportunistas demais, pessoas que querem aproveitar-se de fragilidades, da boa fé, e até da crendice de outros que só conseguem olhar para um "cristo" qualquer reflectido pela face de umas quantas moedas, para se instalarem e criarem, literalmente, "sistemas religiosos" que têm em vista "arrebanhar" o maior número possivel de incautos para os poderem aprisionar com farisaísmos e/ou falsas doutrinas. Os objectivos, claro, são os de sempre: exploração económica, violentação psicológica e exponenciação artificial de frequentadores de igreja pela via do medo e do constrangimento ou policiamento de costumes, mas jamais levar alguém à fé, ao conhecimento de Deus e salvação em Jesus. Para esse tipo de oportunistas, o nome de Cristo é meramente instrumental. Já tinhamos visto isto, ou parecido, em séculos mais recuados, na história da igreja cristã.
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A oportunidade da igreja, hoje, é de se erguer e olhar para todos os que vão ficar expostos socialmente pelos tempos difíceis que se seguirão. A igreja, cada cristão, têm que estar preparados para o que lá vem. Chega o tempo em que não poderemos mais ficar a olhar para o umbigo, ou mesmo quais "Narcisos" a contemplar, deliciados, a nossa "bela" imagem reflectida algures num espelho de águas paradas. É tempo de aceitar as promessas de Deus, receber a sua direcção e agir. É tempo de ser IGREJA.
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Deixo o Salmo 146 para ensino e reflexão. Hoje Deus falou-me nele.
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1Louvai ao Senhor.Ó minha alma, louva ao Senhor.
2 Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto viver.
3 Não confieis em príncipes, nem em filho de homem, em quem não há auxílio.
4 Sai-lhe o espírito, e ele volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos. 5 Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacob por seu auxílio, e cuja esperança está no Senhor seu Deus
6 que fez os céus e a terra, o mar e tudo quanto neles há, e que guarda a verdade para sempre;
7 que faz justiça aos oprimidos, que dá pão aos famintos. O Senhor solta os encarcerados;
8 o Senhor abre os olhos aos cegos; o Senhor levanta os abatidos; o Senhor ama os justos.
9 O Senhor preserva os peregrinos; ampara o órfão e a viúva; mas transtorna o caminho dos ímpios.
10 O Senhor reinará eternamente: o teu Deus, ó Sião, reinará por todas as gerações. Louvai ao Senhor!
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Jacinto Lourenço