“Bem aventurado aquele que lê e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas, porque o tempo está próximo” Apoc. 1:3
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Lembro-me do meu avô materno, homem de excessos contidos, conhecedor dos tempos e das suas nuances, sustentáculos de uma vida de agricultor que o envelheceu precocemente . Sabia ler os céus e os astros que o povoavam, as nuvens, os ventos, as amplitudes das temperaturas, os rigores e os estios. Depois preparava a terra, aproveitava os aluviões e lançava as sementes que seriam o pão sobre a mesa da família. A informação prática, ou empírica, se quisermos dizer de forma mais subtil, que lhe adensava o vasto dicionário da sabedoria herdada de antanho, era fundamental para a sua sobrevivência e dos seus, entre os quais eu me contabilizei em criança. Dela dependia tudo, até os parcos rendimentos amealhados para as situações mais prementes que pudessem vir a espraiar-se numa qualquer maré menos favorável dos refluxos da vida. Conhecia os tempos e isso era determinante. Não sabia ler nem escrever. Escola era um luxo que a pobreza vivida nos seus verdes anos de infante não contemplava. Só lhe ensinaram aquilo que era fundamental para existir no mundo difícil que lhe deixaram. Não enjeitou a herança; sofreu-a como qualquer homem ou mulher da sua geração a quem o trabalho curtiu a vida e a tez, lendo permanentemente, no céu e na terra, os sinais dos tempos que via passar.
Bem aventurados os que “Guardam” . Não tenho dúvida nenhuma de que todos conhecemos o valor deste vocábulo e a sua importância na vida e no tempo. Guardar, conservar, dá-nos a certeza de que garantimos não só o presente mas fundamentalmente o futuro. Guardar a memória, guardar valores, guardar padrões, guardar certezas e convicções. Guardar a fé.
Guardar o conhecimento, como fazia o meu avô José, garante-nos que o saberemos aplicar quando dele necessitarmos. Guardar as palavras da professia, diz Apocalipse.
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Jacinto Lourenço