Se está a ler este texto, então consta seguramente do vasto número de utilizadores da língua de Camões, Pessoa, Jorge Amado, Sena, Torga, Eça, Camilo e tantos outros ilustres falantes.
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Alguma imprensa portuguesa já está a utilizar a grafia do novo acordo ortográfico. Outra, por sua vez, insiste em continuar com a mesma que eu próprio utilizo, e não vê grandes razões para mudar. As duas opções são acertadas, pelo menos nos tempos mais próximos.
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Na verdade, embora se trate da língua portuguesa, nós, portugueses, não somos seus "donos". Uma língua nunca terá fronteiras que a barrem. É um valor transcultural que não pode ser colocado numa redoma. Assim sendo, a língua, portuguesa ou outra, ao ser utilizada por diferentes gentes, outros povos, e exposta a novas realidades culturais, costumes, percepções, geografias, assume um dinamismo que os seus falantes nem sempre controlam. Ora, do meu ponto de vista, mais vale que as nações que usam uma ferramenta comum tão importante como a língua, neste caso a língua portuguesa, se ponham de acordo à volta de um conjunto mínimo de regras que a normalizem gráfica e foneticamente do que não terem nada e, daqui por algum tempo, provavelmente não na minha geração, cada uma estar a falar um sucedâneo do português.
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Em matéria de acordos ortográficos, como em tudo na vida, não se trata de quem é "dono" da língua ou de quem vai ceder para que os falantes de todas as latitudes se aproximem o mais possível; trata-se simplesmente de defender a língua portuguesa para o futuro sem a desvirtuar na sua génese mas sem perder também de vista que há especificidades culturais de cada nação que todos teremos que entender. Qualquer língua, enquanto valor cultural, patrimonial e identitário de cada povo que a adopta como veículo de comunicação e expressão, descobrirá sempre novos caminhos, seja isso ou não da nossa vontade, para além de que o valor intrínseco de uma língua está também na unidade que pode criar.
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Engraçado é que a língua portuguesa que falamos hoje, e que resulta precisamente do dinamismo linguístico que referi, tem já grandes diferenças daquela que se usava há dois ou três séculos atrás, para não dizer menos ainda, e nem mesmo os mais puristas ousariam hoje escrever e falar o português desse tempo. Seria ridículo e tolo. Visto assim, ainda se percebe menos algumas posições "ultra" contra o acordo ortográfico que, friso de novo, em minha opinião, visa defender a língua portuguesa que é "pátria" de cidadãos de diversas origens e diferentes realidades culturais, facto que só enriquece os seus falantes .
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Detratores e defensores de qualquer acordo ortográfico sempre existirão. No entanto é bom não deixar de pensar que, nesta matéria, o purismo nunca fez carreira. As gerações sucedem-se e a língua fica e adapta-se a novas realidades que não são de todo controláveis , muito menos nesta era da tão propalada globalização.
Deixo AQUI, para os que querem perceber tudo sobre o novo Acordo Ortográfico, um Guia Prático do mesmo, publicado pelo Jornal de Letras, Artes e Ideias, com as alterações introduzidas.
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Jacinto Lourenço