sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pode até tratar-se de um "frete" de A.P.M. a Sócrates, mesmo assim não deixa de ser uma Boa Notícia para um país pouco Seguro de Si próprio..

Abençoada Ciência
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A estrutura produtiva do País tem vindo a mudar qualitativamente de forma marcante nos últimos 15 anos. Começam agora a definir-se os contornos de um outro Portugal, diferente da imagem corrente de um tecido empresarial que insistia em apostar no trabalho desqualificado e mal pago. A pouco e pouco foram-se criando as condições de investimento no capital humano e nos meios para fazer emergir a ciência como factor produtivo, indutor de vantagens na competição global. Se em 1995 havia somente 240 empresas que investiam em I&D (investigação e desenvolvimento), hoje já são mais de 2500. O pessoal de investigação nessas empresas, bem como os quadros com formação superior, multiplicaram-se por 8; o investimento em I&D por 13. Hoje, Portugal tem 8 trabalhadores científicos em cada 1000 activos, para uma média de 6 nos 33 países mais avançados (os da OCDE).
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Mas será que este investimento valeu a pena? Medindo resultados, verificamos que entre as mil grandes empresas do País mais as cerca de 5200 PME líderes - responsáveis por mais de 90% das exportações nacionais -, 740 com I&D, empregando quase 300 mil trabalhadores, atingiam 42% do volume de negócios daquele universo e 52% das suas exportações. Estamos, já, num país dual, em vez do uniformemente atrasado. A aposta no ensino, sobretudo para os mais novos, está também ela a criar realidades diferenciadas quanto à qualificação de vários estratos da população activa: há 30 anos, no grupo etário entre os 25 e os 34 anos, só 9% completaram o ensino secundário e 5% o ensino superior em Portugal. Hoje, nesse mesmo escalão etário, há 32% dos jovens com o secundário completo e 14% com um curso superior. Chega? É claro que não! Estes valores representam somente 43% e 52% dos valores médios prevalecentes na OCDE. Mas a sua presença já deixou de ser irrelevante para a produtividade das empresas. Os valores impressionam: nas novas empresas, criadas desde 2005, para uma produtividade de cem nas que empregam licenciados, cai-se para 29 nas que os não empregam e salta-se para 239 nas empresas com I&D! Alguém duvida de que esta é uma aposta que deve intensificar-se nos próximos anos?
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Texto de António Perez Metelo no Diário de Notícias de 10 de Dezembro de 2010