( Altar de Zeus em Pérgamo - Museu de Pérgamo, Berlim )
À semelhança de outras igrejas primitivas, não temos também nenhuma indicação da data de fundação para a igreja localizada em Pérgamo, embora saibamos, com toda a certeza, que isso ocorreu durante o primeiro século da nossa era. Também não conseguimos apurar nada de relevante sobre a sua composição social. Podemos acreditar que não derivará muito daquilo que acontecia com outras igrejas cristãs na Ásia Menor, uma vez que falamos dum contexto cultural, social e económico marcadamente Greco-Romano e que, portanto, a igreja seria povoada por pessoas convertidas do paganismo reinante, gentios e também judeus foragidos das perseguições romanas nos seus territórios de origem.
De igual forma, não nos chega nenhuma informação a partir da qual possamos concluir algo sobre a liderança da igreja. Sabemos aquilo que a carta contida no livro de Apocalipse nos informa acerca de Antipas, que era seu pastor antes do martírio. Sobre a sua sucessão, a história não nos deixou réstea de informação que faculte a mínima hipótese de formulação teórica para a realidade desta igreja. Mas sabemos que a dificuldade para os que professavam a fé cristã em Pérgamo é extrema, num ambiente de paganismo, misticismo e ocultismo.
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As terras de Pérgamo eram férteis. Disso falaram Plínio o velho e Estrabão. Trigo, azeite, vinho, cavalos e ovelhas, mármore, madeira, minas de prata e ouro. Unguentos e perfumes de Sardes. Tecidos bordados a fio de ouro, sapatos e arreios. Enfim toda uma panóplia de materiais e produções que estão reflectidas no pórtico do altar de Zeus. A riqueza de Pérgamo era tão fabulosa que Horácio, o grande poeta latino, utiliza nos seus poemas o termo «Atálico» quando se quer referir a algo que é imensurável.
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Monumentais obras arquitectónicas dispostas em «socalco» e em quatro plataformas da Acrópole da cidade de Pérgamo, dominavam aquela. Destacam-se o palácio dos reis, o templo de Athena, a biblioteca (a segunda maior do mundo, por essa altura, a seguir a Alexandria com a qual rivalizava), o teatro (com capacidade para cerca de 20.000 espectadores), o templo de Dioniso, o templo de Asclépio, a Ágora superior e o grande altar de Zeus. Descendo da Acrópole, o complexo do «Gimnasium», o maior e mais completo da antiguidade.
Os fundadores do reino e da cidade de Pérgamo, tinham a ilusão de que estes se pudessem tornar numa réplica, em importância e relevo, de Atenas no oriente. Isso emprestou a Pérgamo um conjunto de características que não se verificavam noutras cidades da Ásia Menor. Nomeadamente o facto de aí estar instalado um dos maiores templos a Zeus , a oriente da Grécia, erigido por Eumenes II para consagrar a Zeus a sua gratidão pela vitória alcançada por seu pai na guerra contra os gálatas, para além, é claro, de existirem outros templos e cultos de importância relativa, como a Athena, Asclépio, Dioniso, Cibele, etc. Mais tarde, no ano 29 d.C., foi ainda erigido um outro templo, a Augusto, imperador Romano.
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Pérgamo era um importante centro de paganismo. “Aqui travava-se uma intensa batalha, em que os combatentes não eram pessoas, mas ideias. O aspecto mais importante realçado na carta escrita à igreja de Pérgamo e que consta em Apocalipse, não era o do bem e do mal, mas sim o da verdade e do erro. Face a toda este ambiente de superstição religiosa, mística e ocultista (que radicava em boa parte nas influências babilónicas), fica a ideia de que a presença do Anticristo era mais evidente em Pérgamo do que noutras cidades da Ásia Menor”.
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Aqui estava centralizada a principal referência pagã a Asclépio ( o deus serpente) por aí se situar uma importante escola de medicina, ciência que, por essa altura, andava um pouco de braço dado com o ocultismo e misticismo (um género do culto a Sousa Martins do nosso tempo). O nosso bem conhecido Galeno exerceu na escola de Pérgamo. Segundo historiadores da antiguidade, como Tácito e Xenofonte, a adoração ao deus Asclépio assumiu grande relevo no contexto do pequeno império de Pérgamo e, mais tarde, na Província Romana da Ásia Menor e outras vizinhas. É como se Pérgamo e Asclépio fossem “Fátima” daquele tempo.
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Pérgamo tem portanto, como vimos, particularidades que afectaram decididamente a vida da igreja e dos cristãos aí residentes.
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A razão pela qual Jesus conhece as igrejas, é porque anda no meio delas, e por isso pode particularizar a mensagem que dirige a cada uma. Relativamente à igreja de Pérgamo, Jesus está fundamentalmente preocupado com a verdade e que esta seja, para além de preservada, difundida.
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Jesus revela-se, no início da carta que dirige à igreja de Pérgamo pela pena de João, de uma forma dura aos cristãos a ela pertencentes. Ele descreve-Se como aquele que tem uma espada de dois gumes porque o poder sobre a morte e a vida é dele. Ele não apenas aplica a Justiça e o Amor como também destrói os inimigos do seu reino. Dois gumes da espada, portanto. A espada é claramente uma analogia com aquilo que ela representava no Império de Roma. Mas Cristo queria informar os crentes de que não deviam vergar-se ao poder déspota de Roma e à adoração do erro proveniente desse poder. Roma, por seu lado, não se interessava muito que os autóctones praticassem as suas próprias religiões, mas se alguém dizia “ Zeus é Senhor” ou “Jesus é Senhor” tinha imediatamente que dizer de seguida que “César é Senhor”.
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Também, pelo menos uma vez no ano, todas as pessoas deveriam prestar culto a César e queimar-lhe incenso, sob pena de serem acusados de traição e consequentemente mortos.
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O Senhor Jesus Cristo informa na carta que não toleraria falsos ensinos e ensinadores. Os crentes de Pérgamo não podiam esquecer que existe um padrão imutável na igreja de Deus: a Sua Palavra, e que Cristo zela por a fazer cumprir.
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Qualidades importantes foram realçadas e apontadas à igreja de Pérgamo : reteve o Nome de Cristo e não negou a fé. Qualidades estas que se tornam ainda mais importantes se atendermos ao período difícil pelo qual a igreja de Pérgamo passara "no tempo de Antipas - fiel testemunha". A coragem de Antipas em manter a fé, não se arrastando a deuses estranhos nem à religião do estado levou-o a ser condenado à morte. De acordo com a tradição, no interior do templo de Asclépio, deitado vivo numa grande bacia de bronze que foi levada à incandescência através de fogo.
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Jacinto Lourenço