Aeroportos alemães propõem "perfis de risco" para prevenir atentados terroristas
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Os aeroportos alemães querem dividir os passageiros em grupos de risco, com base em critérios como a origem étnica, a religião e a idade, um modelo já seguido em Israel, para prevenir melhor atentados terroristas.
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Fonte: SIC
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Não vivi nem senti os horrores da 2ª guerra mundial pois esta terminou em 1945 e eu só nasceria nove anos depois. Mas a minha adolescência foi passada ainda sob uma forte corrente de influência das memórias dessa guerra, que teve, como bem sabemos, um dos seus principais palcos na europa. Livros de banda desenhada e cinema, que faziam as minhas delícias, eram veículos de glorificação dos vencedores e de desonra para os perdedores alemães que tinham sido, afinal, os principais culpados deste sangrento episódio mundial. Acho que a minha geração, sem ter assistido ao vivo aos factos bélicos, acabou por ter acesso a informação privilegiada sobre tudo o que se passou na guerra atendendo a que a poeira da história já tinha assentado um pouco e permitia ver com clareza o que realmente se tinha passado e o que daí tinha resultado.
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Não nutro qualquer simpatia ou antipatia particular pelos alemães enquanto nação ou pela Alemanha enquanto país. Respeito a sua capacidade de trabalho e a sua persistência e perseverança bem como a sua força moral e espiritual que os levou a erguerem-se de duas guerras mundiais e a voltarem a impor-se no concerto das nações em muitos domínios. Gosto de alguns compositores alemães, de Lutero, de Goethe e pouco mais. Ao contrário de muitos europeus, não gosto de carros alemães, da língua alemã, e de muitas coisas que por lá se produzem que avariam com a mesma rapidez que as produzidas em qualquer outro país. Sou visceralmente avesso à arrogância e ao pretensiosismo dos alemães de acharem que são donos da europa só porque têm mais dinheiro que os outros europeus.
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Parece-me que na Alemanha persiste a terrível tentação de se olhar para toda a gente que não seja alemã sob o prisma da etnia, da raça, da religião ou da nacionalidade e depois classificar as pessoas em função de escalas de valoração humana pela bitola germânica.
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Presumo, a avaliar pela notícia acima, que um português, um espanhol, um romeno, um búlgaro, um Sírio ou até um italiano possam vir a ser classificados como "personanas non gratas" para os alemães, como o foram, noutras ocasiões, os judeus, os ciganos, ou os negros...
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Podem dizer-me que estou a ser pouco correcto ou até preconceituoso, que o objectivo é a prevenção de riscos e outras nações querem também promover as mesmas medidas que os responsáveis dos aeroportos alemães pretendiam ver implementadas e a que a senhora Angela Merkel, para já, disse que não. Não sou preconceituoso, mas também não sou ingénuo. E também não gosto de xenofobia. A história é o que é e a Alemanha já caiu várias vezes em tentação, escudada nos mais "válidos" argumentos para isso, com resultados suficientemente negros para que nós não nos devamos esquecer deles nem das suas trágicas consequências.
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Dir-me-ão que exagero, que vivemos em democracia e etc. Antes da segunda guerra mundial também vivíamos e não foi isso que impediu Hitler de chegar legitimamente ao poder e fazer o que fez com a anuência ( e conivência ) das principais democracias europeias ao tempo. E o facto de a actualidade europeia ser pontuada por uma confrangedora fragilidade de lideranças bem como uma grande pobreza de espírito e de sentido ético e moral não me deixa tranquilo.
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Não faço generalizações abusivas e inaceitáveis mas constato que a apetência de alguns dirigentes alemães para usarem "botas de esmagar" é notória. A sua tendência para a catalogação das pessoas de acordo com valores rácicos tem resultado em sucessivas cedências à tentação da subjugação pela força física ou psicológica de outros homens e mulheres que não preencham determinados requisitos teutónicos, ou que não partilhem da sua visão do mundo. A história, por outro lado, revela por vezes um estranho gosto pela repetição...
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Por mim, olharei sempre para os alemães com amor cristão, em especial para aqueles que sofreram na carne os desvarios dos seus próprios compatriotas e foram marcados pelo ferrete da intolerância e ostracismo. Por outro lado, espero sinceramente que a Alemanha contemporânea não se deixe manipular por dirigentes com ideias tão peregrinas como a do chefe dos aeroportos e não embarque em aventureirismos de estigmatizações rácicas, éticas ou religiosas ou de nacionalismos delirantes.
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Jacinto Lourenço