quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cristóvão Colombo e o Passaporte Espanhol

( Imagem jornal El Mundo )

Quem não ficou muito contente com a estória foram os nuestros hermanos gallegos da vila de Baiona. Não percebem porque é que estando todos os anos a festejar, no primeiro fim de semana de Março, a "Festa da Arribada" da nau Pinta que trouxe em primeiro lugar, para terras de Espanha, a novidade da descoberta da América por Cristóvão Colombo, vêm agora estampado, na contracapa dos passaportes espanhóis, um mapa que dá claramente uma rota de chegada diferente para o regresso de Colombo após a descoberta do novo mundo. E o problema dos nossos confrades ibéricos é que a bolsa de todos os viajantes carrega agora esse mapa exibindo mundo fora a viagem de regresso da Niña, com Colombo ao comando depois de se ter afundado a Santa Maria, que era efectivamente a nau almirante, a aportar primeiramente em Lisboa, ainda que o tenha feito quatro dias após a Pinta ter aportado em Baiona na Galiza.
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O jornal El Mundo não desarma, nem os de Baiona tão pouco. Chamam ao mapa um "erro histórico", e dizem até, em tom de brincadeira, que terá sido desenhado por um português.
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Claro que esta polémica assume foros de "escândalo" em Espanha, e não é porque não se saiba por lá que o mapa traduz efectivamente a realidade histórica de que a Niña atracou realmente em Portugal antes de rumar a território espanhol; não, para nuestros hermanos o problema tem a ver com o seu grande ego que fica "ferido" por esta pequena traição de Colombo, de ter fundeado em Portugal antes de rumar a Espanha. Depois, bem, depois de passados 517 anos vem ainda por cima um distraido qualquer e estampa com esse facto num passaporte espanhol. É demais! Como se já não bastasse a quase certeza absoluta de que Cristóvão Colombo, para além de não ser castelhano nem genovês, era português, regressa a história, qual fantasma, a acenar com o adágio de que "o bom filho à casa torna"... Para um bom espanhol, pior que isso é ver traçada no seu passaporte a rota da Niña em direcção a um porto português e não a um porto espanhol em primeiro lugar. Claro que apesar de não termos um ego tão grande quanto o espanhol, embora isso nos possa prejudicar mais do que nos benificiar em muitas ocasiões em que deveríamos afirmar-nos como povo, não podemos deixar de perceber o desgosto que vai pelo lado de lá da fronteira...
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Mas talvez aqui se aplique um outro adágio que diz que "Deus escreve direito por linhas tortas", mesmo que Deus não tenha nada a ver com esta polémica e muito menos com as bafientas rivalidades históricas entre vizinhos ibéricos.
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Jacinto Lourenço
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